segunda-feira, 9 de junho de 2014

A Bruxa.

Nos seus olhos ele podia enxergar tudo, até mesmo o que ainda não tinha visto, mesmo que aqueles olhos não existissem, e mesmo que aquelas mãos, aquele corpo, aquilo tudo, fosse um fantasma, ele ainda podia enxergar todas as riquezas, toda a bondade, todo fogo do Inferno e olhares anuviados vindos do paraíso,
lá estava a bruxa, que nada mais era que a sombra de sua própria alma desgastada pela solidão.
Tomou seu café, fumou seu cigarro, e saiu, indo para a rua sabendo que iria encontrar pessoas, beber, comer, e continuar só, mesmo que fosse no meio de uma multidão, porque no fundo ele sabia, que quem nasce fadado a ser sozinho, jamais pode esperar olhos com todas as riquezas do mundo.





"Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras.
Mas se tento comunicar-me
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão."




Carlos Drummond de Andrade


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